"Os Três Macacos" de Nuri Bilge Ceylan estreou em Lisboa
"Os Três Macacos" é um dos grandes filmes deste final de ano. Depois de "Clouds of May", de "Longínquo" e de "Climas", estes dois últimos vistos em Portugal, o Turco Nuri Bilge Ceylan assina, em "Os Três Macacos", um filme (Prémio de Melhor Realizador em Cannes) que estica (aparentemente) até ao limite o seu cinema da incomunicabilidade silenciosa - ou no máximo espartana -, da contemplação cerrada, da austeridade visual, do não-dito, da impotência existencial, e da estreita correlação entre a interioridade emocional e psicológica das personagens, e a meteorologia e suas variações e caprichos.
Poucos cineastas utilizam o tempo atmosférico para fins dramáticos e expressivos de forma tão vincadamente significativa como ele. Ceylan, engenheiro electrotécnico por formação e antigo fotógrafo de publicidade, convertido ao cinema após ter visto "O Silêncio" de Ingmar Bergman, produz, escreve, monta e até interpreta os seus filmes, que polvilha com familiares, roda em sua casa ou nas destes, e os quais costumam transportar uma mochila autobiográfica.
Em "Os Três Macacos", um título que remete à velha fábula (e a uma famosa estátua) sobre a forma como as pessoas se recusam a encarar a realidade e descartam responsabilidades, Nuri Bilge Ceylan filma, em digital e Scope, um político de Istambul a pedir ao seu motorista que, a troco de dinheiro, arque com a culpa por um atropelamento e fuga, um adultério entre o político e a mulher do motorista, a angústia e a inquietação do filho destes, um carro em segunda mão, a tensão mudamente crescente entre o pai, a mãe e o filho, um punhado de diálogos utilitários, e os efeitos físicos e emocionais, visíveis e invisíveis, de um Verão de calor prostrante e de trovoadas assustadoras.
Estreou em Portugal discretamente no dia de Natal e só em duas salas de cinema de Lisboa.
(Fonte: Diário de Notícias)