sábado, 8 de dezembro de 2007

Por que escreve Orhan Pamuk...


"Como sabem, a pergunta que mais fazem a nós escritores, a pergunta predilecta, é: por que escreve? Escrevo porque tenho uma necessidade inata de escrever! Escrevo porque sou incapaz de fazer um trabalho normal, como as outras pessoas. Escrevo porque quero ler livros como os que eu escrevo. Escrevo porque sinto raiva de todos vocês, sinto raiva de todo mundo. Escrevo porque adoro passar o dia à mesa a escrever. Escrevo porque só consigo participar da vida real quando a modifico. Escrevo porque quero que os outros, todos nós, o mundo inteiro, saibam que tipo de vida nós vivemos, e continuamos a viver, em Istambul, na Turquia. Escrevo porque adoro o cheiro do papel e da tinta. Escrevo porque acredito na literatura, na arte do romance, mais do que em qualquer outra coisa. Escrevo porque é um hábito, uma paixão. Escrevo porque tenho medo de ser esquecido, porque gosto da glória e do interesse que a literatura traz. Escrevo para ficar só. Talvez escreva porque tenho a esperança de entender por que sinto tanta, tanta raiva de todos vocês, tanta, tanta raiva de todo mundo. Escrevo porque gosto de ser lido. Escrevo porque depois de começar um romance, um ensaio, uma página, quero sempre chegar ao fim. Escrevo porque todo o mundo espera que eu escreva. Escrevo porque tenho uma crença infantil na imortalidade das bibliotecas, e na maneira como meus livros são dispostos na prateleira. Escrevo porque é animador transformar todas as belezas e riquezas da vida em palavras. Escrevo não para contar uma história, mas para compor uma história. Escrevo porque desejo escapar do presságio de que existe um lugar para onde tenho de ir mas ao qual – como num sonho – nunca chego. Escrevo porque jamais consegui ser feliz. Escrevo para ser feliz."

Orhan Pamuk, em Babamın Bavulu (2007). Este livro reúne dois discursos do escritor turco: um deles ao receber o Prémio Nobel da Literatura em 2006, e o outro ao receber o prémio Friedenspreis em 2005. Inclui ainda um texto proferido na Conferência Puterbaugh em 2006.

Este livro encontra-se traduzido no Brasil com o título A Maleta do Meu Pai, editado pela Companhia das Letras em 2007.

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